Indígena Guarani-Kaiowá se torna o primeiro Juiz Árbitro do Mato Grosso do Sul

Gilberto Fernandes Paulo, do povo Guarani-Kaiowá, conquistou um marco histórico: ele é o primeiro indígena da etnia a se tornar Juiz Árbitro no estado de Mato Grosso do Sul. A certificação foi concedida pela instituição JUS EXPERT, após a conclusão de um curso lato sensu de 80 horas, em 20 de julho de 2025.
Nascido na aldeia Teykue, no município de Caarapó (MS), Gilberto viveu na comunidade até os sete anos de idade. Depois, mudou-se com a família para a cidade de Naviraí (MS), onde iniciou sua trajetória na comunicação como radialista e repórter, trabalhando na defesa dos direitos indígenas e na valorização das culturas originárias.
É formado em Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e sempre atuou em frentes sociais e políticas. Em 2018, foi candidato a deputado estadual pelo Partido dos Trabalhadores (PT), defendendo pautas como a demarcação de terras, saúde indígena e educação bilíngue.
Entre suas contribuições, destaca-se a atuação como diretor da Rádio Indígena FM, sediada na aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS), uma das maiores comunidades indígenas urbanas do Brasil. Durante sua gestão, a emissora ganhou relevância como canal de informação, educação e resistência.
Também é fundador de dois projetos de comunicação voltados ao fortalecimento da voz indígena nas mídias digitais: o Diário da Aldeia e a Aldeia Interativa, voltados à produção de conteúdo jornalístico e educativo sobre os povos originários.
Atualmente, Gilberto reside na cidade de Naviraí (MS), na aldeia Santiagokue, localizada em uma área retomada a cerca de 24 km da zona urbana, onde segue atuando como comunicador, liderança e agora, como profissional da justiça arbitral.
“Ser indígena e atuar como juiz árbitro é mais do que representar meu povo. É criar pontes entre saberes diferentes. A justiça precisa incluir todas as vozes”, afirma Gilberto.
A arbitragem é uma forma legal de solução de conflitos fora do sistema judiciário tradicional, prevista na legislação brasileira. A conquista de Gilberto é um marco não apenas pessoal, mas coletivo, e reforça a importância de ocupar espaços estratégicos com representatividade e diálogo entre culturas.
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